LUIZ CARLOS LISBOA
Minha convivência com o Murilo conheceu duas épocas e dois cenários diferentes. Ela se iniciou na redação do “Jornal do Brasil” na Avenida Rio Branco, no começo dos anos 60, quando o Alberto Dines resolveu criar o primeiro Departamento de Pesquisa da imprensa brasileira. Depois de advogar por quatro anos, eu tinha decidido que aquilo que desejava mesmo era escrever, bem ou mal mas escrever, em vez de falar com juízes e fazer arrazoados pelo resto da vida. Fiz um teste com o Dines e comecei como tradutor, de inglês e francês, dos telegramas que as agências de notícias enviavam para o JB. Um dia o Jaime Negreiros, chefe de redação do jornal, sugeriu lá dentro que eu poderia fazer também reportagens e entrevistas. O pessoal do “aquário” concordou e eu comecei minha vida de jornalista.
Naquele mesmo ano apareceu na redação um sujeito misterioso que ficava sentado numa mesa vazia, observando os repórteres e depois lendo as laudas que chegavam à mesa do Negreiros. Era estranho que o Negreiros permitisse isso. Todo dia almoçávamos, Luís Tápias, Francisco Baker, às vezes o Mauricio Kubrusly e eu, no restaurante do jornal, e com frequência comentávamos a figura pálida que lia atentamente toda lauda datilografada que lhe caía sob os olhos, e que se mantinha arredio, apenas lendo e olhando. Demos a ele o apelido de Kafka porque nos parecia sombrio, esquálido e tímido como o autor de “O Processo”. Dias depois o Tápias me encontrou no Caderno B, tomando café e batendo papo com o Nonato Masson, e me avisou muito sério: “O Kafka quer falar com você”.
A figura pálida estava me esperando na redação. “Vamos tomar um cafezinho?”, ele perguntou e eu concordei, sem dizer que aquele seria o segundo que eu tomaria em quinze minutos. Ele fora convidado pelo Dines a organizar um setor de pesquisa e arquivo no JB, e duas pessoas haviam indicado meu nome para ajudá-lo. Eu era o repórter que tinha a mania de explicar nas entrelinhas cada personagem e paisagem que entravam nas reportagens que fazia.
Os copys cortavam um bocado de coisa das matérias que eu entregava ao Negreiros. Fiquei entusiasmado com o convite e passei a almoçar todos os dias com o Murilo – o Kafka da nossa invenção – para discutir o que seria meu trabalho. Nos meses que se seguiram eu descobri um sujeito fantástico, brilhante, meio maníaco, muito tímido, louco por música e artes gráficas, e também dado a passageiras depressões que ele jamais comentava com alguém.
Tinha na minha gaveta do jornal um “Vademecum Médico- Farmacêutico” que um médico que entrevistei me havia dado.
A cada sintoma do Murilo – dor de cabeça, tonteira, nevralgia, lá o que fosse – eu puxava o livro da gaveta e recitava duas ou três linhas. Ele dizia que eu era o seu médico, e sabendo que eu já tinha sido advogado me pespegou o apelido de “Dr. Lisboa”. Os apelidos que o Murilo dava pegavam depressa, não sei porque, alguns para a vida toda. Era engraçado o velho contínuo da redação me chamando de doutor, e ao editor-chefe de você.
Com os dias, o Departamento de Pesquisa cresceu muito, e vieram o Luís Paulo Horta, a Clotilde Hasselmann (que o Carlinhos Oliveira ia contemplar nos finais de tarde), o Samuel Dirceu e outros tão bons quanto esses, que ficaram até o último dia do Murilo no jornal. A hipocondria do meu chefe era tema de piada no JB daquela época. Um dia em que íamos de táxi assistir, na Sala Cecília Meireles, um concerto de violino, ele me puxou pelo braço e perguntou, em voz baixa para que o motorista não o escutassse: “Dr. Lisboa, sabe me dizer se já soube de algum caso de câncer no coração?” Não, não sabia, respondi sorrindo, e ele ficou casmurro, meio envergonhado da pergunta, até começar o concerto.
A outra época e o outro cenário em que convivi com o Murilo foi em São Paulo, no primeiro ano de vida do “Jornal da Tarde”. Era também um tempo de euforia, criatividade e sucesso. O jornal do Ruy Mesquita era o assunto do dia no mundo da comunicação no Brasil, e o regente daquela orquestra era o pálido, silencioso e sardento mineiro de Lavras, o inesquecível Kafka da redação luminosa do JB no Rio. Primeiro na Major Quedinho, no coração de São Paulo, depois na Marginal do Tietê, Murilo comandou o trabalho entusiasmado de uma geração jovem de jornalistas notáveis. Durante quinze anos, mais ou menos, mantivemos o hábito de interromper nosso trabalho para tomar café, onde houvesse um café decente para tomar. “Vamos para o nosso tradicional?”, ele me perguntava e já ia caminhando para o elevador.
Murilo sorvia seu café numa xícara grande, quase sem açúcar, e não comia nada de acompanhamento. Aí era a sua hora de falar, um dia com encanto quando via uma beleza fugidia na calçada (ele apreciava um tipo de mulher magra e pequenina, que não me impressionava nem um pouco, e brincava que eu era wagneriano porque só gostava das Valquírias), outro dia com a alma pesada, devido à morte de algum conhecido ou por causa de um sintoma novo que o estivesse assombrando naquela tarde. Mas às vezes também ria longamente, e me fazia rir também da vida e do mundo, quando era eu que me queixava dos dias cinzentos de São Paulo.
Nosso último encontro foi surpreendente. Eu estava morando na Rua 100 em Manhattan ed recebi um telefonema do Murilo. Ele estava num hotel bem perto de mim, muito nervoso e com um tornozelo fraturado numa queda no gelo, logo na chegada a Nova York. Fui para lá e já o encontrei mais calmo, até bem- humorado. Jantamos e conversamos até tarde, lembrando os velhos tempos de Jornal do Brasil e de Jornal da Tarde, recordando amigos e amigas da Paulicéia. Conversamos ainda depois por telefone, mas os papos e risadas entre cafezinhos, nunca mais.
O que eu daria hoje para um papo com o Murilo sobre o outro lado, que ele já conhece. Se existe alguma coisa por lá, e isso todo mundo vai conferir um dia, ele deve estar em bom lugar.
Princeton, NJ, outubro de 2009
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
À frente do espelho
Nirlando Beirão
Intrigava a todo mundo, vocês se lembram, aquela caneta de ponta fina deslizando pelo papel, e produzindo traços sorrateiros, enquanto as reuniões de pauta do jornal suscitavam temas como a eleição municipal, o PCC e o novo ataque do Corinthians.
Ele ouvia, digamos assim de esguelha, e até que prestava certa atenção na conversa, mas seus desenhos como que o afastavam dali para um limbo de fantasia, impermeável à crueza e à mediocridade daquela realidade vomitada dia após dia à frente de nós, pobres jornalistas.
As caricaturas do Murilo – algumas delas estão aqui – podiam ser de uma maldade atroz, pontiaguda, mas até na crueldade ele sabia manter a delicadeza. Por alguma razão, nunca fui vítima delas. Acho que não.
Caricaturas o que são, senão o direito de exacerbar detalhes e acentuar traços? O Murilinho adorava fazer isso. Mas, de tanto me confrontar com as caricaturas dele, sutis mas pegajosas, entendi um dia que o Murilinho traduzia, ele próprio, no seu jeito de ser, de vestir, de andar, passos miúdos se esgueirando pelas paredes do mundo, essa qualidade iconográfica da reiteração e da redundância, tão vital ao nosso universo atroz da comunicação imediata.
Olhem lá: o invariável cashmere clarinho, a calça de sarja, os jornais e revistas debaixo do braço – assim, o invariável caricaturista como se candidata ao jogo de espelho no qual passa a ser, ele, não o desenhista, e, sim, o desenhado.
Como caricatura presume humor, o Murilo acatou a regra da brincadeira, que consiste em rir dos outros, mas também rir de si mesmo.
Intrigava a todo mundo, vocês se lembram, aquela caneta de ponta fina deslizando pelo papel, e produzindo traços sorrateiros, enquanto as reuniões de pauta do jornal suscitavam temas como a eleição municipal, o PCC e o novo ataque do Corinthians.
Ele ouvia, digamos assim de esguelha, e até que prestava certa atenção na conversa, mas seus desenhos como que o afastavam dali para um limbo de fantasia, impermeável à crueza e à mediocridade daquela realidade vomitada dia após dia à frente de nós, pobres jornalistas.
As caricaturas do Murilo – algumas delas estão aqui – podiam ser de uma maldade atroz, pontiaguda, mas até na crueldade ele sabia manter a delicadeza. Por alguma razão, nunca fui vítima delas. Acho que não.
Caricaturas o que são, senão o direito de exacerbar detalhes e acentuar traços? O Murilinho adorava fazer isso. Mas, de tanto me confrontar com as caricaturas dele, sutis mas pegajosas, entendi um dia que o Murilinho traduzia, ele próprio, no seu jeito de ser, de vestir, de andar, passos miúdos se esgueirando pelas paredes do mundo, essa qualidade iconográfica da reiteração e da redundância, tão vital ao nosso universo atroz da comunicação imediata.
Olhem lá: o invariável cashmere clarinho, a calça de sarja, os jornais e revistas debaixo do braço – assim, o invariável caricaturista como se candidata ao jogo de espelho no qual passa a ser, ele, não o desenhista, e, sim, o desenhado.
Como caricatura presume humor, o Murilo acatou a regra da brincadeira, que consiste em rir dos outros, mas também rir de si mesmo.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Mais leve que o ar
Luiz Carlos Secco
Da mesma forma com que dava beleza às páginas do Jornal da Tarde, Murilo Felisberto ornamentava a vida, prestigiava as amizades, incentivava os companheiros de trabalho, acolhia as boas idéias. Afável, com voz tranqüila e sorriso que viajava entre a timidez e o respeito transmitia paz e confiança a quem dele se acercava. Foi sempre assim em nossa convivência no jornal e, posteriormente, fora dele, era tratado com elegância e me fazia sentir que estava feliz por me encontrar e que nutria admiração pelos trabalhos que realizei ao longo dos anos. Era evidente a sua alegria por encontrar um velho companheiro.
Altamente competente e criativo, era também sofisticado. Creio que não dirigia veículos, mas nutria muita paixão por carros, especialmente pelos belos, como o Duesenberg, um clássico norte-americano dos anos 20 e 30 que marcou época pela exuberância de seu acabamento, pela esportividade marcante, pelas linhas nobres e pelo requinte mecânico. Automóvel desejado por personalidades ilustres, atores e atrizes. O duque de Windsor, os reis Alfonso XIII, da Espanha, e Emmanuel, da Itália, Greta Garbo, Mae West, Clark Gable e Gary Cooper foram alguns entre os famosos a possuir um Duesenberg.
Entre os carros brasileiros, entusiasmou-se pelo Chevrolet Opala quando foi lançado, em 1968. Sua mente criativa imaginou um acabamento diferente para esse produto com carroceria européia e mecânica norte-americana com o qual a General Motors ingressou no campo dos automóveis, depois de muito tempo como mera fabricante de pick-ups e caminhões: branco, com interior inteiramente na mesma cor.
Murilo mantinha o comportamento ameno até nos momentos em que o normal seria agir com rispidez. Lembro-me que idealizei uma reportagem na antiga chácara da Willys, em São Bernardo do Campo, onde a empresa preparou-se para fotografar toda a linha 1967, inclusive o Itamaraty Executivo, primeira limusine brasileira que teve o primeiro exemplar entregue ao então presidente da República Humberto de Alencar Castelo Branco. Pelo forte esquema de segurança que seria montado, imaginei que as fotos somente seriam possíveis com o uso de um helicóptero, idéia que ele aprovou entusiasmado. Naturalmente, o setor de transportes do jornal precisaria tomar as providências para a locação da aeronave. Mas, ao entregar a requisição por ele assinada, recebi um categórico “não” do responsável. Ao saber da negativa, Murilo não perdeu a elegância, nem levantou a voz. Simplesmente levantou-se da cadeira, dirigiu-se ao chefe de transportes e o convenceu, de forma amena, sobre a importância do trabalho para o jornal.
Foi a primeira reportagem brasileira do setor automotivo com esse recurso e, como resultado, um vibrante trabalho, que envolveu tentativas de agressão, armas empunhadas e a colisão de uma pick-up Willys na traseira de um Mercury 53, que o fotógrafo Luiz Manuel idolatrava, mas que decidiu colocar no esquema para evitar a presença de veículos do jornal que nos identificassem. A reportagem terminou com uma fuga da equipe do jornal no velho Mercury amarrotado vencendo uma perseguição feita pelos raivosos funcionários da Willys em carros do modelo ainda a ser lançado. Entusiasmado com o trabalho, o próprio Murilo fez o título de uma das páginas da reportagem: “Willys 67 perde sua primeira corrida”.
Da mesma forma com que dava beleza às páginas do Jornal da Tarde, Murilo Felisberto ornamentava a vida, prestigiava as amizades, incentivava os companheiros de trabalho, acolhia as boas idéias. Afável, com voz tranqüila e sorriso que viajava entre a timidez e o respeito transmitia paz e confiança a quem dele se acercava. Foi sempre assim em nossa convivência no jornal e, posteriormente, fora dele, era tratado com elegância e me fazia sentir que estava feliz por me encontrar e que nutria admiração pelos trabalhos que realizei ao longo dos anos. Era evidente a sua alegria por encontrar um velho companheiro.
Altamente competente e criativo, era também sofisticado. Creio que não dirigia veículos, mas nutria muita paixão por carros, especialmente pelos belos, como o Duesenberg, um clássico norte-americano dos anos 20 e 30 que marcou época pela exuberância de seu acabamento, pela esportividade marcante, pelas linhas nobres e pelo requinte mecânico. Automóvel desejado por personalidades ilustres, atores e atrizes. O duque de Windsor, os reis Alfonso XIII, da Espanha, e Emmanuel, da Itália, Greta Garbo, Mae West, Clark Gable e Gary Cooper foram alguns entre os famosos a possuir um Duesenberg.
Entre os carros brasileiros, entusiasmou-se pelo Chevrolet Opala quando foi lançado, em 1968. Sua mente criativa imaginou um acabamento diferente para esse produto com carroceria européia e mecânica norte-americana com o qual a General Motors ingressou no campo dos automóveis, depois de muito tempo como mera fabricante de pick-ups e caminhões: branco, com interior inteiramente na mesma cor.
Murilo mantinha o comportamento ameno até nos momentos em que o normal seria agir com rispidez. Lembro-me que idealizei uma reportagem na antiga chácara da Willys, em São Bernardo do Campo, onde a empresa preparou-se para fotografar toda a linha 1967, inclusive o Itamaraty Executivo, primeira limusine brasileira que teve o primeiro exemplar entregue ao então presidente da República Humberto de Alencar Castelo Branco. Pelo forte esquema de segurança que seria montado, imaginei que as fotos somente seriam possíveis com o uso de um helicóptero, idéia que ele aprovou entusiasmado. Naturalmente, o setor de transportes do jornal precisaria tomar as providências para a locação da aeronave. Mas, ao entregar a requisição por ele assinada, recebi um categórico “não” do responsável. Ao saber da negativa, Murilo não perdeu a elegância, nem levantou a voz. Simplesmente levantou-se da cadeira, dirigiu-se ao chefe de transportes e o convenceu, de forma amena, sobre a importância do trabalho para o jornal.
Foi a primeira reportagem brasileira do setor automotivo com esse recurso e, como resultado, um vibrante trabalho, que envolveu tentativas de agressão, armas empunhadas e a colisão de uma pick-up Willys na traseira de um Mercury 53, que o fotógrafo Luiz Manuel idolatrava, mas que decidiu colocar no esquema para evitar a presença de veículos do jornal que nos identificassem. A reportagem terminou com uma fuga da equipe do jornal no velho Mercury amarrotado vencendo uma perseguição feita pelos raivosos funcionários da Willys em carros do modelo ainda a ser lançado. Entusiasmado com o trabalho, o próprio Murilo fez o título de uma das páginas da reportagem: “Willys 67 perde sua primeira corrida”.
Bola Virtual: Murilinho, volte aqui. Não volta mais!
Alberto Helena Jr.
Já leu Proust? Pois precisa ler, precisa ler – sentenciou-me com o indicador quase diáfano pautando no ar cada sílaba.
- Aimez-vous Brahms? – respondi-lhe, numa alusão ao péssimo romance de Françoise Sagan que ainda fazia um sucesso danado naquele tempo distante, virada dos anos 50 para os 60, pois sabia já de sua paixão por Bach, Vivaldi e seu horror por textos ruins. Um diálogo insólito, feito de referências e insinuações, que marcaria nossos encontros pela vida afora durante os últimos quarenta e tantos anos.
Murilinho, até então, aos meus olhos, era apenas uma silhueta curiosa, um fiapo de gente, alva, quase transparente, que cortava a noite e as redações sobraçando maços de jornais, revistas e livros, naquele passinho miúdo e rápido, dissimulando assim o gênio do jornalismo brasileiro que se escondia por trás de um meio sorriso cínico com o qual encerrava seus breves e frequentes recitais de assobio, acompanhando do dedinho diáfano no ar, feito batuta de maestro.
- Escale sua Seleção. Se bater com a minha, está contratado. – anunciou muitos anos depois, na mesa do primeiro Giovanni Bruno.
Esse era o teste a que Murilinho me submetia para ver se este ex-crítico de música sabia sobre o futebol o suficiente para voltar ao Jornal da Tarde, agora, em nova função.
Recitei nome por nome da minha seleção ideal para a Copa de 70, e fui aprovado:
- Bate com a minha, bate com a minha – ciciou Murilinho, que não falava, ciciava.
- Pois se bate com a sua, não deveria nunca me contratar, já você não sabe nem o formato de uma bola de futebol, quanto mais escalar uma Seleção Brasleira.
Não sabia mesmo, nunca chutou bola, nem de meia. Mas, lia, lia muito, e sabia de tudo o que estava ocorrendo no mundo, em cada seção dos jornais, identificava talentos para o ofício onde ninguém suspeitaria ali estivesse um pingo de bossa para a profissão. Disfarçava, porém, todo esse conhecimento sob um falso véu de alienação, e se divertia muito com isso.
Há tempos não o via. E eis que, de repente, surpreendo sua silhueta passando ali em frente, abraçado àquela pilha de livros, jornais e revistas, no passo miúdo e rápido. Pra onde vai, Murilo? Espere mais um pouco, o copo ainda está cheio, cara. Volte aqui. Não volta mais.
Já leu Proust? Pois precisa ler, precisa ler – sentenciou-me com o indicador quase diáfano pautando no ar cada sílaba.
- Aimez-vous Brahms? – respondi-lhe, numa alusão ao péssimo romance de Françoise Sagan que ainda fazia um sucesso danado naquele tempo distante, virada dos anos 50 para os 60, pois sabia já de sua paixão por Bach, Vivaldi e seu horror por textos ruins. Um diálogo insólito, feito de referências e insinuações, que marcaria nossos encontros pela vida afora durante os últimos quarenta e tantos anos.
Murilinho, até então, aos meus olhos, era apenas uma silhueta curiosa, um fiapo de gente, alva, quase transparente, que cortava a noite e as redações sobraçando maços de jornais, revistas e livros, naquele passinho miúdo e rápido, dissimulando assim o gênio do jornalismo brasileiro que se escondia por trás de um meio sorriso cínico com o qual encerrava seus breves e frequentes recitais de assobio, acompanhando do dedinho diáfano no ar, feito batuta de maestro.
- Escale sua Seleção. Se bater com a minha, está contratado. – anunciou muitos anos depois, na mesa do primeiro Giovanni Bruno.
Esse era o teste a que Murilinho me submetia para ver se este ex-crítico de música sabia sobre o futebol o suficiente para voltar ao Jornal da Tarde, agora, em nova função.
Recitei nome por nome da minha seleção ideal para a Copa de 70, e fui aprovado:
- Bate com a minha, bate com a minha – ciciou Murilinho, que não falava, ciciava.
- Pois se bate com a sua, não deveria nunca me contratar, já você não sabe nem o formato de uma bola de futebol, quanto mais escalar uma Seleção Brasleira.
Não sabia mesmo, nunca chutou bola, nem de meia. Mas, lia, lia muito, e sabia de tudo o que estava ocorrendo no mundo, em cada seção dos jornais, identificava talentos para o ofício onde ninguém suspeitaria ali estivesse um pingo de bossa para a profissão. Disfarçava, porém, todo esse conhecimento sob um falso véu de alienação, e se divertia muito com isso.
Há tempos não o via. E eis que, de repente, surpreendo sua silhueta passando ali em frente, abraçado àquela pilha de livros, jornais e revistas, no passo miúdo e rápido. Pra onde vai, Murilo? Espere mais um pouco, o copo ainda está cheio, cara. Volte aqui. Não volta mais.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Extra! Extra!
Percival de Souza
Murilinho era repórter das Folhas (Manhã, Tarde, Noite), eu contínuo da redação.
As máquinas de escrever ficavam embutidas sob a tampa das mesas de madeira. Na hora em que quase todos escreviam, aquele barulho produzia um som incomparável, uma delícia como o cheiro de graxa na rotativa. Eu, adolescente, sabia que havia um time de repórteres de primeira linha no jornal. E Murilo sempre foi símbolo do bom texto, eterno produtor do espetáculo das palavras, esculpindo frases e parágrafos com esmero e capricho. E desenhando, quase solitariamente, naqueles tempos em que Maurício de Souza se empenhava mais nos desenhos do que em ser repórter policial do time comandado por Jarbas Lacerda e suas eternas gravatas borboletas. Havia, também, o chargista oficial da editoria de Política, Orlando Mattos, e o faz-tudo Nelson Coletti, irmão do chefe do Departamento Pessoal.
Meu sonho era ser, algum dia, como um daqueles repórteres que eu tanto admirava: José Hamilton Ribeiro, Neil Ferreira, Ennio Pesce, Roland Marinho Sierra... Comecei a produzir um jornalzinho de circulação interna, que - modéstia à parte - desbancou, numa parede dos fundos, o canto de avisos gerais, piadas e protestos, chamado "O Boato". Meu jornal trazia as fofocas da redação, tinha informantes nas reuniões dos editores, continha informações obtidas em primeira mão, "furos" até, e de vez em quando tinha o privilégio de contar com um desenho de Murilo Felisberto, que os produzia com certa rapidez, assobiando baixinho. Um contínuo pautava Murilo Felisberto! De repente, voltando de uma viagem a Londres, o diretor das Folhas, José Nabantino Ramos, mandou instalar um sino na redação. O sino tocava pontualmente em horários de reunião e fechamento.
Era réplica de um de redação inglesa. Contamos essa história em nosso jornal. Foi um sucesso.
Murilo, no início dos anos sessenta, trocou as Folhas pelo Jornal do Brasil, onde foi chefiar o Departamento de Pesquisa. O JB era a Bíblia de então. Ficamos felizes por Murilo: jovem e já no jornal-referência da imprensa brasileira.
Foi então que ele fez um artigo sobre o jornal do futuro. Era um texto agradável, antevendo avanços tecnológicos. Terminava dizendo que o chefe de redação seria uma espécie de robô. E, diariamente, o responsável pela manutenção chamaria o contínuo, no encerramento do expediente, e diria: "Por favor, Percival, não se esqueça de lubrificar o redator-chefe".
Todos se divertiram com essa história. Passei um telegrama para ele. Os termos: "Contínuo é a PQP". Acontece que estavam começando os anos de chumbo da ditadura militar e aquilo, suspeitou-se, poderia ser uma mensagem subversiva em código, circunstância que eu, já engatinhando no jornalismo, precisei explicar às autoridades competentes de maneira humorada e convincente.
Nossos destinos se encontrariam no Jornal da Tarde, que iríamos fundar em janeiro de 1966. Diretor, Mino Carta; Murilo, secretário de Redação. Era uma nova escola de texto e diagramação. Arte pura em dias memoráveis.
Murilo Felisberto tinha, entre outros, um dom especial: intuir aquela que seria uma grande matéria e desenhá-la antecipadamente. Certa vez, perguntou-me se seria possível fazer uma reportagem sobre tipos de crimes que mais acontecem ao longo dos meses do ano. Respondi que não havia pensado nisso, mas iria verificar. Descobri, na Polícia, que essas características existiam e se refletiam em variáveis de roubos, furtos, assassinatos, brigas, agressões. Murilo ouviu e horas depois me chamou para mostrar uma página desenhada, como título já pronto: "O Calendário do Crime". A arte lembrava mesmo um calendário, de janeiro a dezembro, com desenhos de ladrões, gente empunhando armas, pessoas estiradas no chão. Então, fiz a matéria com as informações necessárias, dentro do tamanho pré-determinado. Teve uma grande repercussão, até mesmo dentro da Polícia.
Outra reportagem assim, precedida de uma conversa sobre tráfico e consumo de drogas na alta sociedade, provocou um desenho de página anterior à matéria. E o título: "Society Cocaína". Foi tão bom esse título do Murilo que o usei para um livro, que escreveria anos depois.
Dizia-se, na redação, que aquele maço de jornais e revistas que ele sempre carregava como marca registrada pessoal, significavam a sua eterna busca por um texto impecável. Passou a circular uma história sobre tempos em que a Rainha - incrível, era este o apelido dele na redação - estava apaixonada por uma musa que, imaginávamos, seria irresistível. Tanto que tínhamos muita curiosidade em descobrir quem seria. E, segundo consta de fonte fidedigna, um amigo mais próximo foi merecedor das confidências de Murilo sobre o palpitar mais forte do coração. Ele teria descrito a moça com o encanto dos olhos, dos cabelos, da voz, da meiguice, as leveza dos movimentos. Arremate da confissão: "...e tem um texto!" Seria assim a mulher perfeita, segundo Murilo.
Por causa do bendito texto, ele contratou, na redação do JT, uma professora da Universidade de São Paulo, cuja tarefa diária era assinalar falhas de estilo, concordâncias se fosse o caso, e análise de texto nas matérias. A professora fazia isso em provas de páginas, todas marcadas implacavelmente com lápis vermelho. Murilo observava atentamente a cada análise crítica. Depois, chamava alguns dos editores e gargalhava de tanto divertir-se com as observações feitas. Diante dela, porém, sempre se mantinha circunspecto.
Em julho de 1972, ele escolheu algumas das reportagens que ele considerou as melhores da história do JT em seus primeiros dois mil números. E concebeu um suplemento, cujo título foi "Jornal da Tarde nº 2001". Elas foram reproduzidas e ilustradas - uma grande honra para os autores, senti-me orgulhoso de estar entre eles.
Algumas primeiras páginas históricas foram resultado do seu trabalho em examinar os assuntos principais do dia e definir, então, a capa do jornal. Uma delas era um jogo de camisas. Duas delas: uma de presidiário, para um industrial, apelidado de "Mau Patrão", condenado judicialmente. "Ponha essa camisa no mau patrão". Outra, de um jogador contratado por um dos times de futebol de São Paulo. "Vista a camisa de seu time nesse jogador". Uma criatividade incrível.
Quando a Polícia descobriu o lugar onde se fazia o encontro promovido pela União Estadual dos Estudantes (UNE), tínhamos nas mãos uma cobertura excepcional. O sítio em Ibiúna foi invadido pela Polícia ao amanhecer de um sábado. Tínhamos um repórter lá dentro e uma grande cobertura, de fora. O JT não circulava aos domingos. Fomos em comitiva ao apartamento do Murilo, sugerir que saísse uma edição extra. Ele não se entusiasmou, considerou inviável, argumentou que precisava um pouquinho mais de tempo para que a edição de segunda fosse impecável, imbatível. Seria mesmo. Mas saímos frustrados do apartamento, amaldiçoando a Rainha. Escrevemos sábado e domingo. E foi no domingo, ao me ver escrevendo que ele passou pela minha mesa e sorriu, como se dissesse que aquele tempo a mais era comprovadamente necessário. Provocou: "Eu não disse?" Minha reação foi de xingá-lo baixinho. Mas depois admiti que ele estava certo. O material era muito bom para ser fechado às pressas. E Murilo, atento na redação, demonstrava que sua indiferença era apenas aparente - mais uma vez estava sendo profundamente profissional.
Apareceu com seus jornais e revistas no lançamento de meu livro Eu, cabo Anselmo. Disse a ele que o seguinte, Autópsia do Medo, uma biografia do delegado Sérgio Fleury, seria ainda melhor. Ele sussurrou, como se aconselhando: "Calma, calma..." De fato, não me apressei. Segui as instruções da nossa Rainha.
Murilo Felisberto, no meu caso, foi a história de uma amizade de quase cinqüenta anos. Isso mesmo: meio século. De moleque a adulto. De contínuo a repórter. Murilo transformou-se em sua própria notícia.
Quando desaparece um jornalista como ele, nós morremos um pouco - não só porque os sinos dobram por todos, mas em razão de que haverá menos criatividade. Menos liberdade. Menos razão.
No momento supremo da prestação de contas da vida de Murilo Felisberto, podemos assinalar que o excepcional jornalista buscava ardentemente a perfeição. E conseguiu, tantas vezes, produzir obras que podem ser consideradas respeitas. Assim como se a folha de uma árvore pintada por um pincel que chegara à perfeição ganhasse vida de repente numa tela, encerrando nesse momento o espírito de todas as folhas.
Um jornalista como Murilo Felisberto, através de seus trabalhos realizados com tanta dedicação, arte e paixão pela profissão, encerra em si o espírito de todos os jornalistas do mundo.
Murilinho era repórter das Folhas (Manhã, Tarde, Noite), eu contínuo da redação.
As máquinas de escrever ficavam embutidas sob a tampa das mesas de madeira. Na hora em que quase todos escreviam, aquele barulho produzia um som incomparável, uma delícia como o cheiro de graxa na rotativa. Eu, adolescente, sabia que havia um time de repórteres de primeira linha no jornal. E Murilo sempre foi símbolo do bom texto, eterno produtor do espetáculo das palavras, esculpindo frases e parágrafos com esmero e capricho. E desenhando, quase solitariamente, naqueles tempos em que Maurício de Souza se empenhava mais nos desenhos do que em ser repórter policial do time comandado por Jarbas Lacerda e suas eternas gravatas borboletas. Havia, também, o chargista oficial da editoria de Política, Orlando Mattos, e o faz-tudo Nelson Coletti, irmão do chefe do Departamento Pessoal.
Meu sonho era ser, algum dia, como um daqueles repórteres que eu tanto admirava: José Hamilton Ribeiro, Neil Ferreira, Ennio Pesce, Roland Marinho Sierra... Comecei a produzir um jornalzinho de circulação interna, que - modéstia à parte - desbancou, numa parede dos fundos, o canto de avisos gerais, piadas e protestos, chamado "O Boato". Meu jornal trazia as fofocas da redação, tinha informantes nas reuniões dos editores, continha informações obtidas em primeira mão, "furos" até, e de vez em quando tinha o privilégio de contar com um desenho de Murilo Felisberto, que os produzia com certa rapidez, assobiando baixinho. Um contínuo pautava Murilo Felisberto! De repente, voltando de uma viagem a Londres, o diretor das Folhas, José Nabantino Ramos, mandou instalar um sino na redação. O sino tocava pontualmente em horários de reunião e fechamento.
Era réplica de um de redação inglesa. Contamos essa história em nosso jornal. Foi um sucesso.
Murilo, no início dos anos sessenta, trocou as Folhas pelo Jornal do Brasil, onde foi chefiar o Departamento de Pesquisa. O JB era a Bíblia de então. Ficamos felizes por Murilo: jovem e já no jornal-referência da imprensa brasileira.
Foi então que ele fez um artigo sobre o jornal do futuro. Era um texto agradável, antevendo avanços tecnológicos. Terminava dizendo que o chefe de redação seria uma espécie de robô. E, diariamente, o responsável pela manutenção chamaria o contínuo, no encerramento do expediente, e diria: "Por favor, Percival, não se esqueça de lubrificar o redator-chefe".
Todos se divertiram com essa história. Passei um telegrama para ele. Os termos: "Contínuo é a PQP". Acontece que estavam começando os anos de chumbo da ditadura militar e aquilo, suspeitou-se, poderia ser uma mensagem subversiva em código, circunstância que eu, já engatinhando no jornalismo, precisei explicar às autoridades competentes de maneira humorada e convincente.
Nossos destinos se encontrariam no Jornal da Tarde, que iríamos fundar em janeiro de 1966. Diretor, Mino Carta; Murilo, secretário de Redação. Era uma nova escola de texto e diagramação. Arte pura em dias memoráveis.
Murilo Felisberto tinha, entre outros, um dom especial: intuir aquela que seria uma grande matéria e desenhá-la antecipadamente. Certa vez, perguntou-me se seria possível fazer uma reportagem sobre tipos de crimes que mais acontecem ao longo dos meses do ano. Respondi que não havia pensado nisso, mas iria verificar. Descobri, na Polícia, que essas características existiam e se refletiam em variáveis de roubos, furtos, assassinatos, brigas, agressões. Murilo ouviu e horas depois me chamou para mostrar uma página desenhada, como título já pronto: "O Calendário do Crime". A arte lembrava mesmo um calendário, de janeiro a dezembro, com desenhos de ladrões, gente empunhando armas, pessoas estiradas no chão. Então, fiz a matéria com as informações necessárias, dentro do tamanho pré-determinado. Teve uma grande repercussão, até mesmo dentro da Polícia.
Outra reportagem assim, precedida de uma conversa sobre tráfico e consumo de drogas na alta sociedade, provocou um desenho de página anterior à matéria. E o título: "Society Cocaína". Foi tão bom esse título do Murilo que o usei para um livro, que escreveria anos depois.
Dizia-se, na redação, que aquele maço de jornais e revistas que ele sempre carregava como marca registrada pessoal, significavam a sua eterna busca por um texto impecável. Passou a circular uma história sobre tempos em que a Rainha - incrível, era este o apelido dele na redação - estava apaixonada por uma musa que, imaginávamos, seria irresistível. Tanto que tínhamos muita curiosidade em descobrir quem seria. E, segundo consta de fonte fidedigna, um amigo mais próximo foi merecedor das confidências de Murilo sobre o palpitar mais forte do coração. Ele teria descrito a moça com o encanto dos olhos, dos cabelos, da voz, da meiguice, as leveza dos movimentos. Arremate da confissão: "...e tem um texto!" Seria assim a mulher perfeita, segundo Murilo.
Por causa do bendito texto, ele contratou, na redação do JT, uma professora da Universidade de São Paulo, cuja tarefa diária era assinalar falhas de estilo, concordâncias se fosse o caso, e análise de texto nas matérias. A professora fazia isso em provas de páginas, todas marcadas implacavelmente com lápis vermelho. Murilo observava atentamente a cada análise crítica. Depois, chamava alguns dos editores e gargalhava de tanto divertir-se com as observações feitas. Diante dela, porém, sempre se mantinha circunspecto.
Em julho de 1972, ele escolheu algumas das reportagens que ele considerou as melhores da história do JT em seus primeiros dois mil números. E concebeu um suplemento, cujo título foi "Jornal da Tarde nº 2001". Elas foram reproduzidas e ilustradas - uma grande honra para os autores, senti-me orgulhoso de estar entre eles.
Algumas primeiras páginas históricas foram resultado do seu trabalho em examinar os assuntos principais do dia e definir, então, a capa do jornal. Uma delas era um jogo de camisas. Duas delas: uma de presidiário, para um industrial, apelidado de "Mau Patrão", condenado judicialmente. "Ponha essa camisa no mau patrão". Outra, de um jogador contratado por um dos times de futebol de São Paulo. "Vista a camisa de seu time nesse jogador". Uma criatividade incrível.
Quando a Polícia descobriu o lugar onde se fazia o encontro promovido pela União Estadual dos Estudantes (UNE), tínhamos nas mãos uma cobertura excepcional. O sítio em Ibiúna foi invadido pela Polícia ao amanhecer de um sábado. Tínhamos um repórter lá dentro e uma grande cobertura, de fora. O JT não circulava aos domingos. Fomos em comitiva ao apartamento do Murilo, sugerir que saísse uma edição extra. Ele não se entusiasmou, considerou inviável, argumentou que precisava um pouquinho mais de tempo para que a edição de segunda fosse impecável, imbatível. Seria mesmo. Mas saímos frustrados do apartamento, amaldiçoando a Rainha. Escrevemos sábado e domingo. E foi no domingo, ao me ver escrevendo que ele passou pela minha mesa e sorriu, como se dissesse que aquele tempo a mais era comprovadamente necessário. Provocou: "Eu não disse?" Minha reação foi de xingá-lo baixinho. Mas depois admiti que ele estava certo. O material era muito bom para ser fechado às pressas. E Murilo, atento na redação, demonstrava que sua indiferença era apenas aparente - mais uma vez estava sendo profundamente profissional.
Apareceu com seus jornais e revistas no lançamento de meu livro Eu, cabo Anselmo. Disse a ele que o seguinte, Autópsia do Medo, uma biografia do delegado Sérgio Fleury, seria ainda melhor. Ele sussurrou, como se aconselhando: "Calma, calma..." De fato, não me apressei. Segui as instruções da nossa Rainha.
Murilo Felisberto, no meu caso, foi a história de uma amizade de quase cinqüenta anos. Isso mesmo: meio século. De moleque a adulto. De contínuo a repórter. Murilo transformou-se em sua própria notícia.
Quando desaparece um jornalista como ele, nós morremos um pouco - não só porque os sinos dobram por todos, mas em razão de que haverá menos criatividade. Menos liberdade. Menos razão.
No momento supremo da prestação de contas da vida de Murilo Felisberto, podemos assinalar que o excepcional jornalista buscava ardentemente a perfeição. E conseguiu, tantas vezes, produzir obras que podem ser consideradas respeitas. Assim como se a folha de uma árvore pintada por um pincel que chegara à perfeição ganhasse vida de repente numa tela, encerrando nesse momento o espírito de todas as folhas.
Um jornalista como Murilo Felisberto, através de seus trabalhos realizados com tanta dedicação, arte e paixão pela profissão, encerra em si o espírito de todos os jornalistas do mundo.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
De lead em lead
Moacir Japiassú
Numa tarde de março de 1963, quando comuniquei aos colegas do Correio de Minas que Antonio Beluco Marra telefonara para avisar que a Última Hora me aguardava para integrar o copidesque de uma de suas inúmeras edições, Fernando Gabeira me entregou o telefone de um amigo:
“É o melhor jornalista de São Paulo, pode te ajudar muito”, disse-me. Telefonei, marcamos encontro.
Tratava-se de um rapaz magrinho e encurvado, sorridente, mineiro de Lavras, amigo de Gabeira desde os primeiros tempos em Juiz de Fora. Trabalhava na sucursal da Manchete. Eu o encontrei no “Clubinho”, um bar com aparência de bunker que havia na galeria do cine Metrópole e reunia boa parte da fauna paulistana da época. Sobre a mesa do solitário Murilo espalhavam-se jornais e revistas estrangeiros e jaziam, ainda intocados, um copo de vinho e uma fatia de queijo brie. O aparelho de som espalhava pelo salão lotado e ruidoso uns fragmentos da Ária na Corda de Sol.
Murilo me recebeu como se tivéssemos estudado juntos no Granbery de Juiz de Fora. Em minutos, éramos velhos amigos. Ele falava baixinho, em meio àquela balbúrdia que desrespeitava os sons de Bach, de modo que, de vez em quando, eu levantava a voz e perguntava: O quê?!?! Quem?!?!, Quando?!?!, Onde?!?!, Como?!?! Por quê?!?! -- e assim, de lead em lead, passamos a construir nossa amizade.
Nossos encontros eram ali ou no João Sebastião Bar, no Sirocco, no Gigetto, onde lhe preparavam uma salada de alface com algumas gotas de vinagre e um fio de azeite. Murilo quase não comia, além da indefectível fatia de queijo com vinho tinto. Apareciam garotas bonitas, que não o interessavam, porque o sóbrio comensal só pensava em jornalismo e garantia que nenhuma delas merecia atenção, porque não sabiam escrever.
Certa noite apareceu um amigo, cujo nome esqueci; contou que deixara a mulher por uma repórter do Diário Popular. Murilo ergueu o indicador, num gesto muito seu, que anunciava uma sentença recheada de seriedade: “A moça tem bom texto?”, perguntou ao apaixonado.
Quando lhe disse que deixaria São Paulo e a Última Hora para aventurar-me no Rio de Janeiro, pediu-me paciência, pois eu estava há apenas cinco meses na cidade. Estaria mal na UH? Não, estava bem até demais, a trabalhar sob as ordens do José Elias, excelente e honesto editor de política; eu apenas não suportava mais ter que vestir paletó e gravata para ir ao cinema, não agüentava o frio e estava cheio do edifício onde morava com um grupo de companheiros de trabalho, famoso balança-mas-não-cai escondido na Rua Paim, bem atrás do Teatro Maria Della Costa.
Durante alguns meses não nos vimos nem trocamos carta ou nos falamos, numa época em que era preciso esperar horas, dias, semanas por uma mísera linha telefônica. Porém, no final de abril ou maio de 1964, quando respirávamos os poluídos ares do golpe militar, a voz de Murilo me chegou pelo telefone; convidado por Alberto Dines, chefe de Redação do Jornal do Brasil, que apreciava seu trabalho na Manchete, estava de mudança para o Rio. “Vou assumir a editoria de Pesquisa e quero você comigo”, anunciou, para minha alegria, eu que penava na reportagem da sucursal do Diário de S. Paulo. Ia rever o amigo, trabalhar com ele num grande jornal e talvez ganhar, finalmente, um bom salário.
Murilo criou o verdadeiro Departamento de Pesquisa, contratou alguns jovens talentos, batalhou por salários dignos. Foi o menos exigente dos chefes que tive na vida, porque não ligava para horários, falava sempre baixinho, naquele mesmo tom emitido nas mesas de bar, e bastava que lhe entregassem um bom texto para esquecer até ofensas pessoais.
Agora, nosso Quartel General de todas as noites era o Bar Luís, na Rua da Carioca, tradicional abrigo de boêmios que precisavam tomar mais uma ou apenas forrar o estômago com salsichas e maionese de batatas, iguarias mais requisitadas do farto cardápio alemão. Sem contar, é claro, o chope sempre bem tirado e algumas doses de Steinhäger para corrigir o paladar.
No início de uma noite de inesquecíveis revelações, Murilo desapareceu da Pesquisa e faltou ao encontro na Rua da Carioca. No dia seguinte, durante o almoço no restaurante do JB, confessou: estava apaixonado por uma donzela que morava na Rua da Matriz, em Botafogo. Teria bom texto? Na verdade, nem jornalista era e o encantamento havia nascido ao primeiro olhar.
Então esse homem de 25 anos, que aparentava um pouco mais, talvez pelo andar retraído e a barbicha em formação, entregou-se a arrebatamentos de adolescente, e certa madrugada, embriagado de vinho e paixão, atirou às ondas de Copacabana a aliança que denunciava o noivado já antigo com moça de São Paulo. Foram semanas de justa aflição para ele e os amigos, os quais só enxergavam avisos de perigo naquela via de mão única – não havia correspondência àquele tão repentino desvario.
Murilo Agostini Felisberto, assim identificado na etiqueta colada à mala de viagem, voltou para São Paulo, casou-se com aquela da aliança ao mar e aliviou o peito sobre a mesa de trabalho no recém-criado Jornal da Tarde, onde nasceram as mais belas páginas da imprensa brasileira dos anos 60.
Quando nos encontramos novamente, meses depois de sua volta a São Paulo, Murilo me fez uma sólida proposta de trabalho. Eu tentava respirar o irrespirável ar da Bloch Editores, quase aceitei, porém assaltaram-me os enregelados fantasmas de 1963, da Rua Paim e adjacências, e ainda a execrável figura do lanterninha do cinema ordenando-me que vestisse o paletó.
Nas viagens ao Rio, sempre jantávamos juntos e a conversa nunca estava longe do que ocorria nas redações e oficinas. Uma bela primeira página nos ocupava até à sobremesa. Numa dessas noites, final de 1968, quando repassávamos as melhores capas sobre o AI-5, numa mesa do Antonio’s, acrescentei à conversa um dos poucos temas capazes de, digamos, modificar o cardápio murilista: a paixão pelas mulheres. Disse-lhe que iria me casar com a repórter Marcia Lobo, ex-Jornal do Brasil, agora minha companheira na revista Pais&Filhos; ele ergueu o indicador e aprovou: “Essa tem bom texto”.
Nos meses subseqüentes, ouvi outros convites do amigo, convites que tentavam o casal; havia abrigo no Jornal da Tarde para Marcia e eu. No final de 1969, recebi passagem de avião para conhecer o jornal e os futuros companheiros, entre os quais alguns bons amigos dos tempos do Correio de Minas. Voltei ao Rio disposto à mudança e Marcia gostou da idéia. Porém, resolvemos pensar e pensar e pensar, até que Jaquito, sobrinho de Adolpho Bloch, fez o favor de me demitir, indignado porque eu, chefe de Redação da revista, dera folga à equipe na sexta-feira da paixão de 1970.
Um mês depois estávamos em São Paulo, à véspera da Copa do Mundo, que o JT prometia cobrir com edições especiais e diárias. Fui trabalhar na editoria de esportes; e como, apesar do prometido, não existia vaga para Marcia, ela passou a fazer freelance na editoria de Variedades. Era muito, muitíssimo o trabalho num vespertino que ignorava horários, mas o casal sempre encontrava tempo para a vida de recém-casados. Ao convívio com Murilo, depois do expediente enlouquecido, preferíamos namorar em cenários mais românticos. Habituado aos séquitos, Murilo não gostou.
O divórcio entre Murilo e eu começou com o absenteísmo do outrora preferido. Tudo nos afastava e um dia, depois de séria discussão a respeito de uma reportagem produzida na sucursal do Rio sobre os vinte anos do atentado da Rua Tonelero, deixamos de nos falar. Algum tempo depois, nem nos olhávamos.
Mesmo assim, o pessoal da Redação achou bastante esquisita minha demissão do jornal, em 1977, a propósito de “contenção de despesas”, medida que atingiu vários companheiros. Marcia Lobo, que algum tempo antes havia conquistado a prometida vaga na Variedades e nada tinha a ver com minha desavença com Murilo, fazia parte da lista. Este foi o detalhe que denunciou o caráter pessoal da demissão e provocou justo desalento.
Alguns anos mais tarde, Marcia e eu bebíamos um drinque no bar-restaurante Pirandello, na Rua Augusta, quando Murilo surdiu ao lado de nossa mesa, estendeu a mão e disse, com a voz mais vigorosa do que o normal: “Acho que está na hora de fazermos as pazes”. Marcia fez que nem ouviu, mas eu, em nome da velha amizade, do muito que fizéramos juntos, em nome de tantos leads e sub-leads, apertei a esquálida mão oferecida.
Éramos amigos novamente.
Numa tarde de março de 1963, quando comuniquei aos colegas do Correio de Minas que Antonio Beluco Marra telefonara para avisar que a Última Hora me aguardava para integrar o copidesque de uma de suas inúmeras edições, Fernando Gabeira me entregou o telefone de um amigo:
“É o melhor jornalista de São Paulo, pode te ajudar muito”, disse-me. Telefonei, marcamos encontro.
Tratava-se de um rapaz magrinho e encurvado, sorridente, mineiro de Lavras, amigo de Gabeira desde os primeiros tempos em Juiz de Fora. Trabalhava na sucursal da Manchete. Eu o encontrei no “Clubinho”, um bar com aparência de bunker que havia na galeria do cine Metrópole e reunia boa parte da fauna paulistana da época. Sobre a mesa do solitário Murilo espalhavam-se jornais e revistas estrangeiros e jaziam, ainda intocados, um copo de vinho e uma fatia de queijo brie. O aparelho de som espalhava pelo salão lotado e ruidoso uns fragmentos da Ária na Corda de Sol.
Murilo me recebeu como se tivéssemos estudado juntos no Granbery de Juiz de Fora. Em minutos, éramos velhos amigos. Ele falava baixinho, em meio àquela balbúrdia que desrespeitava os sons de Bach, de modo que, de vez em quando, eu levantava a voz e perguntava: O quê?!?! Quem?!?!, Quando?!?!, Onde?!?!, Como?!?! Por quê?!?! -- e assim, de lead em lead, passamos a construir nossa amizade.
Nossos encontros eram ali ou no João Sebastião Bar, no Sirocco, no Gigetto, onde lhe preparavam uma salada de alface com algumas gotas de vinagre e um fio de azeite. Murilo quase não comia, além da indefectível fatia de queijo com vinho tinto. Apareciam garotas bonitas, que não o interessavam, porque o sóbrio comensal só pensava em jornalismo e garantia que nenhuma delas merecia atenção, porque não sabiam escrever.
Certa noite apareceu um amigo, cujo nome esqueci; contou que deixara a mulher por uma repórter do Diário Popular. Murilo ergueu o indicador, num gesto muito seu, que anunciava uma sentença recheada de seriedade: “A moça tem bom texto?”, perguntou ao apaixonado.
Quando lhe disse que deixaria São Paulo e a Última Hora para aventurar-me no Rio de Janeiro, pediu-me paciência, pois eu estava há apenas cinco meses na cidade. Estaria mal na UH? Não, estava bem até demais, a trabalhar sob as ordens do José Elias, excelente e honesto editor de política; eu apenas não suportava mais ter que vestir paletó e gravata para ir ao cinema, não agüentava o frio e estava cheio do edifício onde morava com um grupo de companheiros de trabalho, famoso balança-mas-não-cai escondido na Rua Paim, bem atrás do Teatro Maria Della Costa.
Durante alguns meses não nos vimos nem trocamos carta ou nos falamos, numa época em que era preciso esperar horas, dias, semanas por uma mísera linha telefônica. Porém, no final de abril ou maio de 1964, quando respirávamos os poluídos ares do golpe militar, a voz de Murilo me chegou pelo telefone; convidado por Alberto Dines, chefe de Redação do Jornal do Brasil, que apreciava seu trabalho na Manchete, estava de mudança para o Rio. “Vou assumir a editoria de Pesquisa e quero você comigo”, anunciou, para minha alegria, eu que penava na reportagem da sucursal do Diário de S. Paulo. Ia rever o amigo, trabalhar com ele num grande jornal e talvez ganhar, finalmente, um bom salário.
Murilo criou o verdadeiro Departamento de Pesquisa, contratou alguns jovens talentos, batalhou por salários dignos. Foi o menos exigente dos chefes que tive na vida, porque não ligava para horários, falava sempre baixinho, naquele mesmo tom emitido nas mesas de bar, e bastava que lhe entregassem um bom texto para esquecer até ofensas pessoais.
Agora, nosso Quartel General de todas as noites era o Bar Luís, na Rua da Carioca, tradicional abrigo de boêmios que precisavam tomar mais uma ou apenas forrar o estômago com salsichas e maionese de batatas, iguarias mais requisitadas do farto cardápio alemão. Sem contar, é claro, o chope sempre bem tirado e algumas doses de Steinhäger para corrigir o paladar.
No início de uma noite de inesquecíveis revelações, Murilo desapareceu da Pesquisa e faltou ao encontro na Rua da Carioca. No dia seguinte, durante o almoço no restaurante do JB, confessou: estava apaixonado por uma donzela que morava na Rua da Matriz, em Botafogo. Teria bom texto? Na verdade, nem jornalista era e o encantamento havia nascido ao primeiro olhar.
Então esse homem de 25 anos, que aparentava um pouco mais, talvez pelo andar retraído e a barbicha em formação, entregou-se a arrebatamentos de adolescente, e certa madrugada, embriagado de vinho e paixão, atirou às ondas de Copacabana a aliança que denunciava o noivado já antigo com moça de São Paulo. Foram semanas de justa aflição para ele e os amigos, os quais só enxergavam avisos de perigo naquela via de mão única – não havia correspondência àquele tão repentino desvario.
Murilo Agostini Felisberto, assim identificado na etiqueta colada à mala de viagem, voltou para São Paulo, casou-se com aquela da aliança ao mar e aliviou o peito sobre a mesa de trabalho no recém-criado Jornal da Tarde, onde nasceram as mais belas páginas da imprensa brasileira dos anos 60.
Quando nos encontramos novamente, meses depois de sua volta a São Paulo, Murilo me fez uma sólida proposta de trabalho. Eu tentava respirar o irrespirável ar da Bloch Editores, quase aceitei, porém assaltaram-me os enregelados fantasmas de 1963, da Rua Paim e adjacências, e ainda a execrável figura do lanterninha do cinema ordenando-me que vestisse o paletó.
Nas viagens ao Rio, sempre jantávamos juntos e a conversa nunca estava longe do que ocorria nas redações e oficinas. Uma bela primeira página nos ocupava até à sobremesa. Numa dessas noites, final de 1968, quando repassávamos as melhores capas sobre o AI-5, numa mesa do Antonio’s, acrescentei à conversa um dos poucos temas capazes de, digamos, modificar o cardápio murilista: a paixão pelas mulheres. Disse-lhe que iria me casar com a repórter Marcia Lobo, ex-Jornal do Brasil, agora minha companheira na revista Pais&Filhos; ele ergueu o indicador e aprovou: “Essa tem bom texto”.
Nos meses subseqüentes, ouvi outros convites do amigo, convites que tentavam o casal; havia abrigo no Jornal da Tarde para Marcia e eu. No final de 1969, recebi passagem de avião para conhecer o jornal e os futuros companheiros, entre os quais alguns bons amigos dos tempos do Correio de Minas. Voltei ao Rio disposto à mudança e Marcia gostou da idéia. Porém, resolvemos pensar e pensar e pensar, até que Jaquito, sobrinho de Adolpho Bloch, fez o favor de me demitir, indignado porque eu, chefe de Redação da revista, dera folga à equipe na sexta-feira da paixão de 1970.
Um mês depois estávamos em São Paulo, à véspera da Copa do Mundo, que o JT prometia cobrir com edições especiais e diárias. Fui trabalhar na editoria de esportes; e como, apesar do prometido, não existia vaga para Marcia, ela passou a fazer freelance na editoria de Variedades. Era muito, muitíssimo o trabalho num vespertino que ignorava horários, mas o casal sempre encontrava tempo para a vida de recém-casados. Ao convívio com Murilo, depois do expediente enlouquecido, preferíamos namorar em cenários mais românticos. Habituado aos séquitos, Murilo não gostou.
O divórcio entre Murilo e eu começou com o absenteísmo do outrora preferido. Tudo nos afastava e um dia, depois de séria discussão a respeito de uma reportagem produzida na sucursal do Rio sobre os vinte anos do atentado da Rua Tonelero, deixamos de nos falar. Algum tempo depois, nem nos olhávamos.
Mesmo assim, o pessoal da Redação achou bastante esquisita minha demissão do jornal, em 1977, a propósito de “contenção de despesas”, medida que atingiu vários companheiros. Marcia Lobo, que algum tempo antes havia conquistado a prometida vaga na Variedades e nada tinha a ver com minha desavença com Murilo, fazia parte da lista. Este foi o detalhe que denunciou o caráter pessoal da demissão e provocou justo desalento.
Alguns anos mais tarde, Marcia e eu bebíamos um drinque no bar-restaurante Pirandello, na Rua Augusta, quando Murilo surdiu ao lado de nossa mesa, estendeu a mão e disse, com a voz mais vigorosa do que o normal: “Acho que está na hora de fazermos as pazes”. Marcia fez que nem ouviu, mas eu, em nome da velha amizade, do muito que fizéramos juntos, em nome de tantos leads e sub-leads, apertei a esquálida mão oferecida.
Éramos amigos novamente.
Eterno Murilo
Antonio Manoel Alves de Lima
Do mesmo jeito que ele surgia da mesma forma partia sem ninguém perceber, discretamente, mas desta vez, infelizmente, para sempre.
Sua presença para mim sempre foi excitante, um previlégio de estar perante uma pessoa extremamente inteligente, refinada, tímida mas ao mesmo tempo amorosa.
Ao contrário do que se pode pensar, apesar da crença das "fofocas" que Murilo gostava de estar a par, no fundo era apenas para se dar uma dinâmica aos assuntos corriqueiros do dia a dia.
Contudo não conheci uma pessoa na minha vida mais discreta, leal e bom conselheiro como Murilo.
Sou muito grato a ele, pelo que fez a mim e aos meus irmãos principalmente a Ana Carolina, Alfredo e Meméia e posso dizer isso também pela minha sobrinha Michelle, e pelo meu irmão Jorge, além de me ter dado uma irmã maravilhosa, sua filha legítima Carlota.
Para mim e para tantos ele deixará eternas saudades, e posso dizer que sempre ele estará nos meus pensamentos e orações e aquele sorriso NOBRE e MAROTO que NUNCA MAIS esquecerei.
Com extrema admiração afeto e gratidão à você Murilo, Antonio Manoel, Lorenza, Lavinia e Ottavia ALVES DE LIMA
Do mesmo jeito que ele surgia da mesma forma partia sem ninguém perceber, discretamente, mas desta vez, infelizmente, para sempre.
Sua presença para mim sempre foi excitante, um previlégio de estar perante uma pessoa extremamente inteligente, refinada, tímida mas ao mesmo tempo amorosa.
Ao contrário do que se pode pensar, apesar da crença das "fofocas" que Murilo gostava de estar a par, no fundo era apenas para se dar uma dinâmica aos assuntos corriqueiros do dia a dia.
Contudo não conheci uma pessoa na minha vida mais discreta, leal e bom conselheiro como Murilo.
Sou muito grato a ele, pelo que fez a mim e aos meus irmãos principalmente a Ana Carolina, Alfredo e Meméia e posso dizer isso também pela minha sobrinha Michelle, e pelo meu irmão Jorge, além de me ter dado uma irmã maravilhosa, sua filha legítima Carlota.
Para mim e para tantos ele deixará eternas saudades, e posso dizer que sempre ele estará nos meus pensamentos e orações e aquele sorriso NOBRE e MAROTO que NUNCA MAIS esquecerei.
Com extrema admiração afeto e gratidão à você Murilo, Antonio Manoel, Lorenza, Lavinia e Ottavia ALVES DE LIMA
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