Theo Rocha
Nunca me esqueço do projeto gráfico do jornal da tarde.
Todos os finais de semana durante seis meses.
Só nós dois no 7º andar.
Frequentemente o silêncio durava a manhã inteira.
Nenhuma palavra.
As poucas vezes em que ele se pronunciava era quando eu ficava ali do seu lado com o layout em mãos esperando o melhor momento para interrompe-lo.
De trás do jornal ele esticava sua mãozinha branca e delicada, puxava o layout para dentro do seu mundo e devolvia, sem sair dele, com as seguintes palavras: “é theo, é theo…” e eu já sabia. Isso significava que ainda não estava bom.
Voltava pra minha mesa num certo nervosismo porque na maioria das vezes não tinha a menor idéia do que não estava bom.
Mais tarde, na hora em que saíamos para almoçar, entre um comentário e outro sobre pessoas que eu não fazia a menor idéia de quem eram, ele me explicava seu descontentamento com o “t” da tipografia que estávamos usando, comentava suas dúvidas sobre usar a entre-letra menos 0.4 ou 0.5 e reclamava dos constantes ajustes que ele tinha que fazer em seu som.
Foi assim entre um silêncio e outro que o Murilo me ensinou. Foi assim que viramos amigos. E foi assim que aprendi quase tudo que sei sobre direção de arte, muito sobre a vida e um pouco sobre a diferença entre a entre-letra 0.4 e 0.5.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
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