Não é preciso aqui descrever quem, ou como, era o Murilo. Todos sabemos. E sabemos bem. Um dos segredos para a gente gostar dele era o prazer em ir aprendendo, devagarinho, cada uma das manias dele.
Por exemplo: no restaurante, o Murilo pedia sopa de capeletti sem o capeletti. O mais curioso é que ele achava que não precisava explicar. O garçom é que devia entender que, quando o Murilo pede capeletti, na verdade ele não quer o capeletti. Para quem estava na mesa com ele, só restava torcer para o garçom não errar. Ou se divertir se ele errasse. Porque o Murilo de mau humor era ainda mais Murilo.
Aliás, um dos grandes prazeres dele era passar seu mau humor para alguém. Geralmente quando descobria o alto salário de um amigo. A primeira coisa que fazia era ligar para os outros amigos e contar a novidade. Quanto mais triste a gente ficasse, maior era sua alegria.
E de todas as paixões do Murilo, uma era definitivamente a maior. Não era a reforma do apartamento, não era o exemplar da StereoSound, nem um romance de pulp fiction. Era a fofoca. Viesse de onde viesse. Desde o namoro da vizinha, até os bastidores do alto escalão.
Os amigos mais diligentes chegavam a anotar num papelzinho a lista de fofocas para divertir o Murilo. E os amigos mais escolados fingiam sempre saber de quem ele estava falando, quando contava os segredos.
Uma das histórias que ele adorava terminou virando um bordão que ele volta e meia repetia. Era a história de um rapaz do jornal. Um dia, o chefe chamou e o demitiu. Mesmo assim, ele continuou indo trabalhar normalmente. Toda a redação achou aquilo estranhíssimo. Mas o rapaz ia trabalhar de segunda a sexta, apesar da demissão. Até que o Murilo foi lá perguntar: “ô fulano, você não foi demitido?” E o rapaz: “quer me irritar, é tocar neste assunto”.
Esta é uma boa resposta que o Murilo nos ensinou. Quando alguém vier nos perguntar se estamos sentindo muito a falta dele, respondamos: quer me irritar, é falar neste assunto.
Porque ele vai estar sempre com a gente, nas nossas melhores lembranças. Mesmo que elas possam estar encharcadas de saudade.
Vamos desejar que o Murilo descanse em paz, junto com os nossos mais sinceros agradecimentos por tanta coisa boa que ele representa para cada um de nós.
Muito obrigado, Murilo.
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