Vital Bataglia
Não sei dizer ao certo, mas ele não passava dos 55 quilos para seu metro e setenta - se tanto - talvez menos. Tinha os cabelos grisalhos, o que me fazia supor ser bem mais velho do que eu, por isso me surpreendi quando vi o seu necrológico. 67 anos?
Murilo Felisberto era o segundo homem da redação quando fui contratado, ainda no número zero do JT. O primeiro era Mino Carta, com seu salto carrapeta e gravatas estravagantes. Ambos desenhavam um novo jornal. Um deles era técnico, traços fortes, simétricos, títulos em egypcienne, caixa 72 ou 84, o outro, traços finos, títulos em futura light.
Ambos criando um novo paradigma do jornalismo.
Eu, um aprendiz.
Nos primeiros dias do jornal, disse ao meu editor que o presidente do Corinthians estava trazendo o jogador Garrincha, do Botafogo, para exames médicos. Se aprovado, seria contratado. As chances de ser aprovado eram iguais a zero.
Mino Carta me chamou. Disse-me para levar uma camisa do Corinthians ao aeroporto de Congonhas, onde Garrincha chegaria com Elza Soares às 9 da manhã. Fui para lá com o fotógrafo Amilton Vieira. Assim que Mané Garrincha desceu do avião eu lhe coloquei a camisa e Amilton fez uma foto linda, ele sorrindo, ajeitando a gola.
A manchete do JT foi esta:
-VEJA MANÉ CORINTHIANO!
Não é preciso dizer que meu texto, assim como o exame médico se tornaram absolutamente dispensáveis depois da foto de página inteira de Garrincha com esse título.
Imaginei que nada poderia ser mais criativo.
Me enganei.
No mês seguinte, fevereiro de 1966, Murilo Felisberto nos chamou.
Queria uma foto especial do casamento de Pelé e Rose. O casamento foi na casa de Pelé, na rua Almirante Cockrane, 123, Embaré. Pelé e Rose no altar, eles de mãos dadas às costas dela, aquele vestido branco, as mãos clarissimas constratando com o dorso da mão de Pelé. Foi a foto de primeira página do Murilo, se bem me lembro de
autoria de Alfredo Rizutti.Estávamos apenas no começo. Quando nasceu a filha deles, Kelly Cristina, o Murilo me chamou e
perguntou-me:
-Como ela é?
-A cara do pai. Eu respondi.
A manchete do jornal:
-Olhos de Pelé, nariz de Pelé, boca de Pelé.
Um dia, em 1968, Mino Carta saiu do JT para fazer a revista Veja.
Anos depois, sairam com o Mu do JT.
Então eu entendi que não tinha mais nada para fazer lá.
Pior agora.
Com a morte do MU, não há mais a menor possibilidade de se refazer a dupla, assim como nunca mais teremos Pelé e Garrincha no mesmo time.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
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