Marcos Magaldi
Nossa, como é difícil escrever sobre um amigo de mais de trinta anos!
O que falar? Outro dia, pensando no assunto, vi que não tinha nenhuma foto dele. Por falar nisto, apesar de termos trabalhado mais de trinta anos juntos e, em alguns momentos, com convivência praticamente diária, nunca fiz uma foto do Murilo.
Que engraçado....
Eu o conheci quando entrei no Jornal em 1973 mas, naquela época, ele era uma figura distante, editor chefe do JT, com quem, nós fotógrafos, tínhamos pouco contato. Quando saí do jornal em 1979, depois de uma fracassada greve dos jornalistas, fui trabalhar com ele na Revista Senhor Vogue, que ele estava editando naquela ocasião. Nunca conheci ninguém com o faro jornalístico dele. Basta lembrar que, já naquela época, a revista publicou a primeira grande matéria com o Lula, um ótimo perfil do Tancredo, sem esquecermos também da reportagem feita com ACM, muito antes de qualquer órgão de imprensa pensar no assunto. Quando escuto falar que o Murilo era apenas um bom diretor de arte, vejo como ele nem sempre foi compreendido na sua trajetória de homem de imprensa. Criador de títulos e seções dentro do JT, que até hoje são inesquecíveis, Murilo era também um ótimo coordenador de colaboradores, trabalhando muitíssimo bem com equipes de 200 ou mesmo de 15 pessoas.
Depois de sua saída da revista, em 1980, acabou se revelando também um excelente homem de criação em publicidade, onde foi responsável pela formação de uma geração de diretores de arte e redatores, até hoje seus discípulos fiéis.
Trabalhamos muito tempo juntos e hoje me parece curioso como pessoas tão diferentes como nós dois, pudessem conviver de maneira produtiva, mas era o que acontecia. Simplesmente nos entendíamos. Aprendi com ele a gostar de maneira quase obsessiva de revistas, não importando muito o gênero de publicação, apenas sua qualidade editorial.
Murilo também adorava informação de qualquer natureza, desde a fofoca mais trivial ,até o furo jornalístico internacional. Lia uma quantidade oceânica de publicações, mas nunca nutriu grande afeto pela tecnologia, ou pela Internet e só recentemente o vi falando em usar computador.
Como um homem de fases, quando reformou seu apartamento na praça Buenos Aires durante vários anos, ficou fanático por arquitetura e vivia com revistas especializadas de baixo do braço, para lá e para cá. É claro que o resultado não poderia ser mais impressionante, já que sua preocupação com detalhes chegava às raias da insanidade. Nesta ocasião conheci uma outra faceta do Murilo. Seu gosto por piano (Chegou a ter alguns ao mesmo tempo) e por música de câmara, além do seu enorme conhecimento de som. Com o tempo, virou inclusive um grande “audiófilo”, comprando uma aparelhagem inigualável, da qual tinha um inegável orgulho...
Estive com ele uma semana antes de se internado, num almoço onde ele era convidado mais uma vez par dirigir uma publicação. Não mostrou especial interesse, dizendo que estava retirado, que sua época terminara. Não me pareceu justo, mas infelizmente neste caso não era uma “boutade”. Nos despedimos rapidamente e não mais estive com ele. Talvez tenha sido melhor assim. De qualquer forma, ele fará muita falta...
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
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