segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Yolanda

Querida Carlota e amado Antônio:

Se eu quisesse representar o homem “tal como ele é” precisaria de uma mescla de linhas tão desconcertantes para sua configuração que... o resultado seria uma confusão a tocar todos os limites das desconfigurações. Paul Klee.

Pensando Murilo, apoiada em Klee, acrescentaria espaços atemporais para transitarem o germe do homem que renasce, a razão do homem que permanece e a sabedoria do homem que semeia.

“Les yeux fertiles” – descobridor de talentos, impulsiona-os a descobrirem suas forças destinais;

“Tout a la coleur de aurora!” – ícone lendário sustenta a novidade a solidez, permitindo que imagens e linguagens se encontrem na simplicidade, para serem belas e verdadeiras;

“Avec le feu d’um chanson sans fausse note” – o mito rege os afortunados jornalistas daquele tempo e lugar, ali abrem-se vias renovadas que nos provocam e inspiram à renovação para admirar o novo.

Murilo feito dos “possíveis”:

Vivemos sempre num clima de bondade, amor, criação, respeito, à procura de inovação: você na linguagem escrita e visual; eu na linguagem pictórica. Madrugadas a dentro, com nossa casa sempre cheia de amigos, discutindo jornal, manchetes, fatos, cinema, arte, teatro etc..

Murilo jornal/ Murilo revista, era uma composição harmoniosa tão forte, que indagaram a ele no Jornal do Brasil se eu era uma revista ou um jornal.

O Diurno - carismático, poeta, músico, escritor, narrador, leitor [com seu jornal sempre debaixo do braço] caricaturista, pai, avô, amigo, companheiro, mestre; capaz de ver no outro, encurralado num inferno, pontos fracos e fortes, de onde tirava e criava histórias, caricaturas, frases, feitas com uma inteligência fina cheias de humor, simbolismo e dignidade, isuspeitáveis.

O Noturno - o construtor e autor de idéias ímpares originais, apaixonado pelo que fazia. Catalisa com competência o grupo de jovens jornalistas, fantasticamente criativos, sensíveis, de muita garra, responsáveis por uma imprensa aniquiladora da mediocridade, da mecanicidade. Voila! o marco da nova era no jornalismo brasileiro, o JT [Jornal da Tarde]. 
Mu, o sempre lembrado, o grade paradoxo.

Tive o privilégio de ser seu “Guia de Passagem” na sua derradeira hora. Seu corpo na entrega sem medo passou para um mundo mais longínquo, adormeceu suavemente e seus restos mortais foram entregues ao Fogo Sagrado. Partiu mas deixou gravada impressões indeléveis.

Seu neto “ Mandarim” olha para o céu e diz para sua avó: - “ o Murilo está naquela estrela!”, apontando com o dedinho.

Mu, abraço da Yo.


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